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As histórias e o tempo

Converso diariamente por zap ou inbox do Face com pessoas que gosto. Algumas conheci virtualmente na quarentena; outras são amigas de longa data e muitas histórias compartilhadas.

Imagino que os novos entrantes me achem às vezes um pouco pentelha – o que sou. Mas não é o que predomina em mim.

Os velhos de guerra, de almoços, de passeatas e de abraços perdoam delicadamente minhas indelicadezas. Porque também sabem que não é o que predominam em mim.

Ando repetindo histórias. Conto coisas como novidades e não são. Sinto-me uma anciã que esqueci o que contou para quem. E as pessoas entendem.

Repetir o passado, porque o presente está dureza. Sou da rua, me inspiro em trechos de bate-papos. Limito-me agora, e vez por outra, ao débito ou crédito.

Hoje estou com vontade de viver histórias reais. Há tanto tempo não as vivo. Estamos em casa há meses.

Mas não é tristeza. Povoo minha vida com planos. E são muitos. Mudar as cores das paredes, talvez fazer uma ajeitada no rosto, amenizando alguns traços que a idade vai acentuando. Algo leve.

Bolota também se ressente da quarentena. Saímos menos e ninguém vem em casa. Ela é a anfitriã perfeita e adora uma visita.

Daqui a pouco saímos. Tentaremos ouvir histórias novas. Tentaremos olhar para os outros, todos com medo da proximidade física. E vamos entender que gentileza agora não é encostar no outro.

Sou descrente que, pós-pandemia, haverá um novo normal. Com gente mais atenta, delicada, cooperativa. Não, gente, meu ceticismo tudo supera. Que falta todos vocês me fazem ao vivo, mesmo os que não conheço pessoalmente.

Isso sim, imagino, será meu novo normal.

 

O novo normal

Há quatro semanas estamos em um novo normal. Há uma semana estou em um novo pós-normal, porque eventos acontecem mesmo entre as nossas fofoqueiras paredes.

Terminei de ler Fahrenheit 451. Nunca um livro fez tanto sentido como nessa era cruel de encarceramento.  Temos de nos acostumar.

Tenho de melhorar. Tornar-me uma pessoa mais atenta e carinhosa, como muitos amigos estão sendo comigo.

Meu novo normal é morrer de alegria ao dar banho na Bolota. E descobrir canções e intérpretes.

Meu novo futuro normal será uma pessoa melhor. Se bem que, mesmo neste horror contemporâneo, consigo ferir um ou outro. Não é intenção, mas implosão – nada se faz outdoors.

Explosões deixo para 2021, acho, quando poderemos nos livrar do gel e da máscara. E, devagarinho, espiar a rua, sentar à mesa com alguns amigos, convidá-los para almoçar em casa.

Mais do que dar banho na Bolota, que é uma tarefa de Hércules, meu novo normal é dizer uma palavra ao dia, quando vou comprar cigarro.

. Débito ou crédito?, pergunta a moça.

Eu encho o peito e falo “crédito”. Com uma alegria extasiante. Falei, máscara a máscara, com alguém.

Daqui a pouco, Bolota cheirosa, vou lá proferir minha única palavra do dia. E aposto que vou voltar mais feliz.

O cigarro do dia final

Comprei o maço de cigarro da imagem abaixo na véspera do ano novo de 2019. Tem significado. É horrível, mas o único encontrado nos sertões de Minas Gerais, aquele do escritor.

Fumei uns três até chegar a São Paulo e guardei o maço. Fui premonitória.

Nestes tempos de escassez, com pessoas nervosas e descompensadas, o consumo de cigarros deve aumentar.

Sei, fui ao pneumo, mas não consigo marcar a tomo, porque todos os exames não urgentes estão suspensos. Quero parar. Agora quero, mas o coronavírus não deixa, este egoísta, que nos impede de tanta coisa.

Abri a gavetinha da cozinha e lá estava ele, o cigarro esquisito do sertão, como um aviso de que o ano seria bagaceira, como ele.

Mas peguei amor neste maço.E o guardo com carinho. Se algum amigo precisar de um último cigarro pigarrento, o meu estará aqui à disposição.

Esquisito mesmo se afeiçoar a cigarro ruim do sertão. Mas, de tantas esquisitices atuais, é o mais amoroso. Lembra-me Tiradentes e o quanto fui feliz lá.

O tal San Marino me faz companhia nesta quarentena.

Quarentena. Peste. Medo. Isolamento.

Faz de conta que estou em um hospício. E todos estamos mesmo.cig

Eppur si muove

Dois panelaços, home office, terapia por skype, um não findar de banhos e lavar as mãos. Mas, no entanto, a cidade sitiada pelo vírus se move.

Em passeio com Bolota, passo por empregados indo ao trabalho. O padeiro fazendo o pão. Velhinhas e inhos dando sua caminhada com cuidadores.

A cidade (ainda) se move.

Mas tem o medo exacerbado da doença que, por ora, não tem cura.

Eu ainda me movo. Bolota também.

Impeachment na boca do povo. Fora, Bolsonaro! Achei, e muitos discordaram, mais forte do que os movimentos contra Dilma.

Eppur si muove. E vai se mover.

Os trailers da vida, com um ou dois Ls

Gosto de novela. Ontem, assistindo à Amor de Mãe, teve aquela cena linda do jantar no trailer (ou trailler) de Enrique Diaz – que eu queria ser amiga para sempre – e Adriana Esteves.

Peguei-me pensando como seria bom morar em um trailer (ll?) daquele, meditar, árvores, pássaros, flores, varandinha, e o interno minúsculo.

O personagem de Diaz (Durval) sabe esperar o seu tempo e o tempo dos que o rodeiam.

Como um trailer de cinema. Vejo, tenho curiosidade, me pego pensando em todo o enredo, sem ter a menor ideia do fim.

Hoje, viajo em ambos os trailers. Da casinha ao cinema. E o sábado fica melhor, com uma paz desassossegada e xereta que toma meu coração.

E se eu morresse nesta noite?

Não, não pretendo desencarnar tão em breve. Mas, ouvindo uma canção, a ideia me ocorreu. E se eu morresse nesta noite, com tanta coisa para resolver, fechar, destilar, não compreender, na minha vida?

E se eu não tivesse ainda resolvido algumas dúvidas? E se alguém também estivesse para dizer algo delicado para mim e não disse?

Tanta bobagem que fiz. Nem deu tempo de expiar a pecadaiada que cometi. Deus teria complacência para tantos pensamentos que nem de longe são nobres?

E se eu morresse nesta noite sem ao menos assistir a um show do Filipe Catto? Eu não me perdoaria. Certamente, o Criador também não.

Bolota ficaria como se eu morresse nesta noite? Meu corpo seria encontrado dois ou três dias depois e ela, tadinha, sem comida e sem passeio.

Se eu morresse nesta noite, eu já tenho medo. Sei lá o que me espera do outro lado, dado meu ainda ceticismo com o além.

Torçam para que eu não morra nesta noite. Darei muito trabalho a vocês. E, fora em filme americano, ninguém tem modelito preto discreto para se fazer presente no enterro.

Ah, se eu morresse nesta noite.

 

 

Sábado entre terra e água

Fui dormir cedo ontem, a primeira noite totalmente dormida. Dez horas regulamentares, para pôr em dia o cansaço dos últimos tempos. Bolota adora, porque é dorminhoca e me acompanha na sonolência.

Cinco xícaras de café bem quentes, porque não estou para mixaria. Bisnaguinha Pullman com manteiga. Pronta para me deliciar com o dia. Sim, porque hoje decretei o dia de delícias. Como será é mero detalhe.

Rego as plantas. Consegui construir um dedo verde. Em especial, a orquídea tão linda que ganhei, num movimento de alguém com carinho por mim. Isso já faz dez dias. E ela está linda.

O mês promete ser meio complicado, por uma efeméride especial. Mas não me furto a pensar nela, ela, a efeméride.

Hoje, tem festa à noite, de aniversário de uma pessoa que gosto tanto. Vamos festar & beijar & abraçar, para espalhar o coronavírus do amor.

Entre terra e água, sou as duas hoje. E aceito isso com relativa paz, porque paz por inteiro só lobotomizada, imagino, na minha imaginação simplista.

 

Pijamas e autoestima

Comprei dois pijaminhas. Não quero mais dormir de camiseta de jabá, nem shorts horríveis com furinhos.

Foi uma revolução interna esta decisão. Sofrida, suada, pensada e calculada. Não se compram pijamas impunemente.

Pijamas são para meu momento íntimo, assim como religiosamente ando passando hidratante no corpo duas vezes ao dia.

Pijamas e autoestima. Taí uma dupla que dá match.

Antes, olhei todos os sites, vasculhei tudo, mas sempre volto à Hering.

Comprei ainda duas calças de moletom skinny. Fofas.

Esta revolução indoors está fazendo meu ego pegar fogo.

Ainda que seja só isso, é um montão.

Viagens

Passei todo o dia com vontade de viajar.

Como está frio, peguei minha jaquetinha marrom, que me acompanha há mais de 20 anos em andanças. Vesti a marrentinha, surrada, mas tão gostosa.

Ficamos aqui viajando de trás pra frente. Minha primeira foi a Foz de Iguaçu com as tias. Primeira vez que fiquei em hotel e tinha até presunto no café da manhã.

Voamos, juntas, para a antepenúltima. Não sei por que na última a desprezei.

Foi Itália, acho. Tenho uma foto bonitinha com ela.

Voa, voa, jaquetinha. Voa, textinho.

Este foi só para me fazer um afago. E, talvez, começar a planejar a próxima viagem. Que terá de ser em setembro.

Whisky, o filme

Revi ontem o filme, sozinha e com calma. Ah, o Uruguai.

E fiz uma lista de desejos:

. Alguém para me levar a Piriápolis, alguém que me convide; não estou para convidar ninguém.

. Ficar em um hotel outrora elegante; hoje meio decadente, mas com charme de longas cortinas e um bar aconchegante para o último drink da noite, ao som de piano.

. Que o hotel tenha uma piscina de água quente, para relaxar o corpo, como já fiquei em um em Brotas – mas este no qual me hospedei era chique; eu quero a decadência sincera do tempo que passa. Como sinto em minhas feições.

. Queria ser a Marta, sem h, por um dia. Deslumbrar-me com pequenas delícias e fumar, vez por outra, um cigarro escondido.

. E, como ela, silenciosamente, não voltar ao velho padrão.